quinta-feira, 16 de março de 2017

Sociedade Confessional

Vi um misto de desespero e carência naquela súplica.

- Vocês não disseram que estão aqui não?

Ela estava com um smartphone na mão; vi uma tela com reflexos azuis e um fundo branco.

A brincadeira de professora e aluno com minha filha perdeu um pouco do encanto, tendo parte de mim sido sugada pela realidade de cuja prisão escapara por poucos minutos.

- Você quer dizer aqui? – Eu balancei o meu telefone, que estava emborcado sobre a mesa. – Não costumo fazer check-ins.

Eu dei de ombros. Os braços de minha filha estavam paralisados a meia altura, tudo nela queria me ensinar algo que eu não sabia, mas seu olhar – agora sério – estava sobre a dona do restaurante e seu celular.

Se eu fui ríspido, não me desculpei. Quis continuar a brincadeira com minha filha – Peraê, filha, deixa eu fazer algo aqui.

Fiz o check-in. Com fotos, algumas selfies. Eu e minha pequena. Se não tem selfie, não aconteceu.

* Inspirado por texto de Z. Bauman e por postagens lidas nesta semana no Facebook. Esse mini conto é inspirado em história real, e não é reflexo, e sim luz para nos apontar caminhos diversos.