quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Impressões sangrentas sobre Seja Imortal, de Frederico Toscano



Fazia tempos que eu procurava um livro sobre/com vampiros que não se prendesse às questões melancólicas, às formas de sua destruição, ao sangue dos e das virgens - enfim, que fugisse aos clichês. Há sim essas questões, mas elas são menor ao enredo de Seja Imortal (Frederico Toscano, edição digital do autor) e são, ainda assim, constitutivas dele.

Não que Seja Imortal não nos traga uma familiaridade com o mito e suas diversas lendas, mas, se você procura os vampiros de Anne Rice, John Carpenter e Bram Stoker, vá diretamente nessas fontes. Os vampiros de Frederico Toscano estão mais próximos, para mim, dos de Stephen King em Salem's Lot (pela natureza), também presentes na saga A Torre Negra (em que há também uma questão corporativa).

Como suportar o jugo de viver para sempre, mas sem hormônios para regular nosso corpo, tendo de fugir do sol, de turbas ensandecidas etc. Bom, isso aqui não é um ensaio, mas vamos lá.

O livro conta a história de Eudora, mulher negra, portadora de deficiência física, e um gênio no seu campo de trabalho. Enquanto progride na carreira, chama atenção dos executivos vampirescos de uma empresa milenar que se instalou no Brasil - lugar, aliás, em que os imortais resolveram se revelar ao mundo. De sua cultura, eles trouxeram nomes, históricos ou não, lastreados na Grécia Antiga e até mesmo em mitos ainda mais antigos.

Voltando à natureza vampiresca, é impressionante como Frederico Toscano conseguiu nos mostrar diversas agendas dos vampiros e, no final, a síntese de todas elas, uma apoteose que volta ao início, como o dragão mordendo a própria cauda (mordendo de verdade, no pun intended) - mas deixarei para o leitor chegar nesse ponto.

O livro é imenso, super bem escrito, muito bem pesquisado (bom, o autor é mestre e doutor em História, convenhamos) e vai revelar ao leitor belas surpresas. Pra mim, houve aquele impacto de não querer largar o livro, mas, como tenho outras leituras, o momento de ler Seja Imortal geralmente era após às 22h, na cama, o ambiente escuro... Seja Corajoso hehehe.

O livro fala de abusos. Abusos políticos, individuais, coletivos. Fala de um país fraturado e dominado pela elite financeira. Fala também de resistência, independentemente do poder das elites. É um convite para a ação em meio à opressão. Senti ecos de leituras minhas anteriores: 1984, Admirável Mundo Novo (Soma neste; Ambrosia e o Elixir em Seja Imortal); A Rainha dos Condenados (da Anne Rice, mas ruim), Fahrenheit 451, e até de Assassin's Creed Odissey (só quem se apaixonou por Kassandra e sua jornada sabe...).

Bom, espero que venham continuações ou outras histórias no mesmo universo. Serão muito bem vindas.


* O livro é uma edição do autor, então possui pequenos erros que não passariam em uma revisão, mas nada que comprometa a leitura. Quero que essa obra caia logo no radar das editoras, merece muito uma edição física.