sexta-feira, 5 de abril de 2019

Em busca do materialismo

Disse que faria postagens sobre minhas atividades e trabalhos na pós (em Psicologia Analítica).
Estamos na última semana desse módulo (Aspectos Universais da Psique e o Mistério da Alma Humana), que foi muito produtivo e rico em informações e sabedoria por parte da professora Andrea Túbero - excelente tutora, sensível nas suas colocações e cujos feedbacks me levaram a "pensar fora da caixinha" do que eu havia escrito.
Antes de falar sobre sonhos e símbolos, fomos levados a pensar um pouco sobre o materialismo e a psique.
Temos de nos lembrar que o conceito de inconsciente desenvolvido por Freud - pois sua origem é anterior - no final do século XIX ocorreu em meio ao materialismo no campo científico, ao positivismo no campo filosófico e praticamente em meio à inexistência com preocupações psíquicas por parte da psiquiatria.

Discorremos acerca de uma entrevista com o neurocientista argentino Ivan Izquierdo.

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O conhecimento, então, tem sua origem por meio das funções transcendente -- responsável, em poucas palavras, por uma síntese entre o aparecimento do arquétipo nas camadas profundas da psique e sua percepção pelo consciente -- e de entendimento simbólico, sua função estruturante interpretativa -- em síntese, com a consciência do material inconsciente e sua elaboração, sua compreensão. A partir disso se dá a produção de conhecimento, o que não foi sequer aventado pelo neurocientista Ivan Izquierdo. [Durante a leitura para escrever a atividade, pensei se isso não corresponderia à *epistemologia junguiana*].
Ele sugere simplesmente que o sujeito pode mudar sua resposta a um estímulo, o que seria possível com medicamentos e com a terapia cognitiva, por exemplo.
A psicanálise, para o neurocientista, estaria relegada a ser um exercício estético, incapaz de eliminar as defesas inconscientes do paciente porque não existiria sequer o inconsciente, já que este não é um dado material objetivo.
O inconsciente, contudo, não é materializável, assim como o pensamento não o é, porém pode ser intuído ou ser objeto de uma síntese empírico-dedutiva, o que foi feito por parte de Freud, Breuer e de Jung.
No texto do médico Carlos Amadeu Botelho Byington, que é analista junguiano, este afirma que é um erro simplesmente mudar a resposta a um estímulo, ou seja, “tratá-los para eliminá-los sem entendê-los simbolicamente”, o que evitaria a integração desses conteúdos na psique e uma, no futuro, maior autonomia do paciente, sua ampliação da consciência, sua individuação -- o que seria prejudicial com a simples eliminação do sintoma.
Dessa forma, não apenas os postulados da neurociência estão limitados a um cientificismo materialista sufocante, mas também a psicanálise fica adstrita apenas à interpretação dos comportamentos pulsionais repetitivos do paciente, cujas defesas estariam no inconsciente, sem levar em consideração padrões de comportamentos e recalques conscientes, cujo descondicionamento é defendido por Byington por meio de técnicas expressivas com fundamento na Psicologia Analítica.
A descoberta da linguagem simbólica por Jung como uma das maneiras pela qual o inconsciente se expressa, possui conteúdo para além do que o indivíduo expressa como memórias, arroubos de coisas e “causos” reprimidos etc. Isso não diz respeito apenas àquilo que cada um traz individual e particularmente, mas está além do conteúdo psíquico do consciente e do inconsciente pessoal, ligado à história e evolução da humanidade como um todo, manifestada por meio do inconsciente coletivo, descoberta seminal de Jung. 
Se a amplificação simbólica e o processamento simbólico do que é estudado é um dos métodos fundamentais da Psicologia Analítica, a simples eliminação do sintoma impede a apreensão do conhecimento simbólico e sua integração no indivíduo.
O método materialista sequer leva em consideração a evolução histórica e biológica que se pode atribuir à psique, às manifestações mitológicas, folclóricas etc., ou seja, coletivas e culturais.
Essas manifestações coletivas estão presentes, de alguma forma, em camadas mais profundas da psique humana. Ainda que não seja possível apreendê-las diretamente, elas são trazidas à consciência de maneira simbólica. Jung assim desenvolve o conceito de inconsciente coletivo e afirma que seu conteúdo subjacente são os arquétipos.
Os arquétipos não são transmitidos hereditariamente. Seu conteúdo energético sim, ou seja, a possibilidade de repetição de sua experiência com uma transformação em símbolos que evocam experiências conscientes e inconscientes do indivíduo. A experiência pessoal é única, mas o consciente também não tem acesso ao arquétipo em si, e sim a uma imagem sua como se espelhada, uma alegoria - um mito, um sonho, uma metáfora enfim. O arquétipo é como se fosse o Titã Proteu, nos atrai e se manifesta de diversas formas a depender do momento.
O inconsciente é um dado nulo para a neurociência. A Psicologia Analítica e seus teóricos e práticos demonstram o contrário -- sem desacreditar o importante trabalho da ciência materialista, a qual também não é um dado objetivo por si só, e sim parte importante de símbolos e elaborações manifestas no consciente dos cientistas.>>

Esse é o texto.
Há aqui alguns conceitos relativos à estrutura da psique (esta, segundo Jung, engloba tanto o consciente - e o Ego - quanto o inconsciente - pessoal e coletivo).
Conceitos também relativos ao desenvolvimento e à dinâmica da psique: energia psíquica, símbolos, amplificação, integração - função transcendente.


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