domingo, 14 de agosto de 2016

Interfaces Holográficas (I)

Eu não tenho bílis ou mesmo serenidade suficiente para participar das discussões no facebook. Não porque eu pense que elas são inúteis. Acho que é uma questão de me poupar, mesmo. A intensidade e quantidade de reclamações aumentou exponencialmente diante dos fatos políticos. Quero evitar um julgamento sobre a utilidade desses posts. Apenas penso que caiu um véu quanto ao estado de ilusão em que muitos se(nos) encontravam(os) a respeito do Brasil e de sua força, de seu multiculturalismo, de sermos um povo de peito aberto. Isso é pontual e contingente. Ainda somos o país do “jeitinho” e da “lei da vantagem”. Se aquele comportamento tem um lado positivo, de desemperrar uma máquina ineficiente, este apenas está preocupado com ganhos materiais. O que vejo são discriminações várias (contra as mulheres, de teor sexual, de teor político, intelectual etc.). O Outro é um monstro e há de ser imposta a ele a vontade que se defende do desconhecido, do abuso pela ignorância. O meu lado analógico também é responsável por um certo distanciamento dessas discussões. Desde muito novo convivo com computadores e com pessoas que dominavam essas máquinas, mas em mim pairava um ar de fascinação, e não de curiosidade prática, isto é, eu gostava de mexer, mas não de aprender a partir desse contato. Pois minha interface holográfica com as redes sociais ainda é limitada. Enxergo que muitos conhecidos e amigos vivem nas redes sociais. Eles trabalham, cozinham, estudam etc. e estão sempre conectados. Há uma bolha de isolamento, mas uma vida cibernética intensa, a holografia do espírito que habita a máquina, as conexões, zeros e uns que preenchem a tela dos pensamentos antes retidos para si, antes postos em diários e sei lá mais o quê (não quero especular tanto sobre isso, e a mesa de um bar ou café sempre é um ponto comum de união). Eu mesmo falaria uma porrada de coisas, reclamaria sobre a monetização da vida, a necessidade de se ganhar e se ganhar mais, de ter e de reter, o crepúsculo dos ídolos da esquerda, a vampirização imposta aos brasileiros pelos que estão atualmente no poder, a derrocada de nossas instituições e do espírito político de solidariedade, mas eu decidi que a via é o melhoramento individual. É agir, ainda que de forma submersa e subversiva, contra e a favor de mim mesmo, visando a um ideal ético que ainda não tenho, mas sem deixar de me descobrir no meio do caminho. Há alguns estalos na consciência cujas origens são para mim nebulosas. Inconsciente? Esses mecanismos ainda me são desconhecidos. Outra interface holográfica, porém, pode ser encontrada na própria existência. Se a mente tem uma origem externa ao corpo ou não, essa “transformação” operada na e pela natureza apenas nos devolverá à ordem das coisas. E que djabos de ordem é essa? Creio na Física Quântica muito mais do que em Javé (apesar de pouco saber sobre os dois - aquela por falta de estudo, este por não levar tanto em consideração as opiniões humanas nos livros ditos sagrados). Somos um pontual colapso quântico em eterna energia, uma holografia, portanto, e a manifestação nas redes sociais pode ser, por isso, um tanto reveladora, pelo que não é dito, quanto tenebrosa, porque amor e carinho parecem ser moedas de troca e publicidade individual, na maior parte dos casos. As exceções são inúmeras, sim. É sempre bom compartilhar bons momentos, mostrar alegria, respeito mútuo. Por outro lado, o simples desabafo - como esse texto bem pode ser caraterizado, eu sei - pode ser mais revelador do que se imagina.. Há muito penso que a melhora de todos depende da atitude de cada um. Espero poder trabalhar isso melhor em mim e estar à disposição para ajudar, tanto profissionalmente quanto carinhosamente, quem precise. Mas e como eu farei isso? Eu!?, “Eu sou o Batman!”

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