quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Por trás dos muros (01)

No fim de semana passado, estive em um café e em um bistrot que, creio, se valorizam e se vendem pelo clima intimista e pela boa culinária.


Ambos ficam em Casa Forte, a menos de quinhentos metros um do outro.


O primeiro é o Provence, fica pouco antes das Ubaias, em direção a Apipucos. Uma casa bonita, e simples, difícil de ser identificada porque não há placa (e a Prefeitura restringiu esse tipo de sinalização), mas sim estratégicas mesas bem iluminadas em uma varanda que dá para a calçada. A iluminação é um destaque. O ambiente é quase todo em tons bege e creme, com toque de marrom escuro, para chamar atenção às guloseimas expostas na parte interna da casa. Lá, após uma pequena porta, há um espaço para recreação infantil, com videogame e uma gigantesca televisão LCD, a fim de que os rebentos possam deixar os pais em um momento mais romântico.



Não lembro os títulos engenhosos dos sanduíches, mas esse é o destaque da casa. O ponto positivo é um sanduíche com pão de cacau (comumente chamado pão australiano), que leva carpaccio de filé migon, queijo, alcaparras, tomate seco etc. Tal mix chama atenção, mas já na segunda mordida a intensidade dos sabores e dos ingredientes é tanta que, pensei, esse prato não serviria como entrada.


A entrada foi, sim, decepcionante. Pequenas fatias de pão de caixa cobertas com ingredientes que, na montagem, pareciam lindos, mas eram apenas atum em conserva com azeitona preta e creme de gorgonzola (opção 01); atum, catchup (pode ser até Heinz, mas catchup?) e azeitona verde (opção 02); e da opção 03 eu nem lembro... É melhor parar, né?


Notei, no menu, a presença de caldos quentes servidos dentro de pão italiano. Se não estou enganado eram alho poró com aspargo, cenoura e caldo verde. 


Outro destaque era a variedade de doces, tortas e biscoitos para ser apreciados com um bom café (Delta). Comi um docinho que era uma geleia de damasco envolta por uma casquinha de chocolate branco e arrematei com uma torta de pão de ló com morango e chantili. Delícia, mas a massa da torta estava um pouco dura.


A segunda aventura francesa na 17 de Agosto foi o Petit Bistrot. A casa fica defronte à Praça de Casa Forte, e existe onde antes funcionava um salão de beleza. Não é apenas um bistrot, mas também um bazar com roupas e acessórios alternativos. O ambiente é colorido e lúdico, com giz de cera nas mesas para as crianças (e os adultos) se divertirem. Fui em um domingo, a caminho do Festival de Circo e de posteriores reuniões literárias (FreePorto e NotaPE). O horário era perfeito para um brunch, e foi um brunch de que me servi. Mix de frutas, ovo misto com ervas, torradas, geleia de amora e croissant.


O mix de frutas era simples, mas uma rodela de abacaxi coberta com geleia de amora fez a diferença. A geleia não era da casa, mas era de superior qualidade. Os ovos mexidos estavam deliciosos. Pena que as ervas não eram frescas, e sim secas, o que tira a beleza do prato e deixa-lhe sem a vivacidade do sabor das ervas. 


O destaque negativo vai para o croissant e para o chocolate gelado. O pão em forma de meia lua (não quer dar uma de barroco, então eu repito croissant para você ler) estava torrado, duro, e com sua casca levemente queimada. O chocolate era, na verdade, toddy batido...


Bom, por trás de muros se pode ter uma vida intimista, mas que não se basta. Por trás de muros se pode encontrar esplendores que hipnotizam, mas que mascaram o que está na nossa frente. Por trás de muros os sentidos se concentram, mas perdem sua matiz. Há pompa e circunstância, há videogame para crianças, há atum com catchup, ovos mexidos com ervas. Há acima de tudo, uma sensação de refúgio, e algo assim deve ser protegido, não entre muros, mas por investimentos que atraiam quem os sabe valorizar. Tal valor merece uma contraprestação à altura. Incensar a coluna social com o lançamento de uma casa diferenciada não deve nunca ser o meio ou o fim de um empresário da boa mesa. O bairro de Casa Forte é marcado no inconsciente coletivo pelo conservadorismo, e, por mais ameaçador que seja para alguns, atrai quem busca qualidade naquilo que é oferecido. Há empreendedores que contam com essa mentalidade relacionada ao bairro para inovarem dentro da própria tradição.


Não quero dizer que não tenha gostado das casas visitadas. Gostei e voltarei a visitá-las, mas espero que as notas dissonantes sejam melhor executadas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário